O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi preso na madrugada desta sexta-feira (25) em Maceió (AL), após uma ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Collor foi detido às 4h, quando se preparava para viajar a Brasília e se entregar à Polícia Federal.
A prisão ocorre após o STF rejeitar os últimos recursos apresentados por sua defesa. Ele cumprirá pena de 8 anos e 10 meses em regime fechado, por participação em um esquema de corrupção na BR Distribuidora. Atualmente, Collor está custodiado na sede da Polícia Federal em Maceió.
A detenção marca mais um capítulo em uma carreira política envolta em crises, denúncias e escândalos desde a sua eleição em 1989 e posterior impeachment em 1992. Relembre os principais episódios:
Fiat Elba
A compra de um Fiat Elba, em nome do então presidente, com recursos desviados por Paulo César Farias, seu tesoureiro de campanha, foi o elemento simbólico que sustentou o pedido de impeachment. O carro teria sido pago com dinheiro oriundo de um esquema de “contribuições voluntárias” exigidas de empresários com contratos públicos — um dos núcleos do chamado “esquema PC Farias”.
Apesar de parecer trivial, o episódio ganhou força porque representava um elo direto entre Collor e recursos públicos desviados. O caso foi usado como prova de corrupção passiva pela CPI que investigava irregularidades na presidência. No entanto, em 1994, o STF absolveu Collor por falta de provas materiais — a decisão não apagou o desgaste político causado pelo episódio.
Continua depois da publicidade
Escândalo PC Farias
PC Farias operava, segundo denúncias da época, um caixa paralelo dentro do governo Collor, com ramificações em diversos órgãos públicos e estatais. Os contratos superfaturados abasteciam contas fantasmas e bancavam despesas pessoais da família Collor. O irmão do presidente, Pedro Collor, foi o responsável por denunciar o esquema à imprensa em uma entrevista à revista Veja em 1992, revelando um sistema de tráfico de influência e corrupção institucionalizada.
A denúncia abriu caminho para a criação de uma CPI e para a mobilização da sociedade civil, culminando no processo de impeachment.
Confisco da poupança
O Plano Collor, lançado em março de 1990, foi uma tentativa radical de conter a hiperinflação — que ultrapassava 80% ao mês. A medida mais controversa foi o congelamento de 80% dos depósitos em conta corrente e poupança acima de 50 mil cruzados novos (o equivalente hoje a aproximadamente R$ 6 mil).
Continua depois da publicidade
O bloqueio durou 18 meses e afetou profundamente a economia doméstica, empresas e o consumo. A medida provocou uma quebra de confiança no governo e prejudicou a imagem de Collor entre a população de todas as classes sociais. Décadas depois, o ex-presidente reconheceu que a estratégia foi desastrosa e chegou a pedir desculpas publicamente.
Movimento dos Caras-Pintadas
A insatisfação popular culminou no movimento dos Caras-Pintadas, formado principalmente por estudantes secundaristas e universitários, que foram às ruas exigir o afastamento de Collor. As manifestações ganharam adesão nacional, com apoio de entidades civis, sindicatos e setores empresariais. Os protestos marcaram a retomada do protagonismo da juventude na política brasileira pós-ditadura.
As imagens de milhares de jovens com rostos pintados de verde e amarelo, carregando faixas de “Fora Collor”, entraram para a história como um dos maiores movimentos populares da redemocratização.
Continua depois da publicidade
O impeachment e a tentativa frustrada de renúncia
Com a pressão social e política crescente, a Câmara dos Deputados aprovou, em 29 de setembro de 1992, a abertura do processo de impeachment, com 441 votos a favor e 38 contra. Já no Senado, diante de um cenário desfavorável, Collor tentou renunciar ao cargo minutos antes do julgamento final, mas a estratégia não surtiu efeito.
Em 30 de dezembro de 1992, o Senado aprovou o impeachment e cassou os direitos políticos de Fernando Collor por oito anos, mesmo após sua renúncia. Essa foi a primeira destituição de um presidente eleito diretamente no Brasil após o fim da ditadura militar.
A Casa da Dinda
A Casa da Dinda, mansão da família Collor em Brasília, virou sinônimo de ostentação com dinheiro público. Em 1992, veio à tona um suposto superfaturamento de uma reforma paisagística nos jardins do imóvel, orçada em US$ 2,5 milhões, pagos com recursos de contas ligadas a PC Farias.
Continua depois da publicidade
Mais tarde, a Casa da Dinda voltou ao noticiário durante a Operação Lava Jato, quando a Polícia Federal apreendeu no local uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini, avaliados em cerca de R$ 7 milhões. Os veículos estavam em nome de empresas de fachada, usadas, segundo a PF, para lavagem de dinheiro de propina.