A Gerdau (GGBR4) registrou na noite da última segunda-feira (28) um lucro de R$ 758 milhões no primeiro trimestre de 2025 (1T25), com queda anual de 39%.
Na visão da XP Investimentos, a Gerdau reportou resultados ligeiramente melhores do que o esperado, com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado de R$ 2,4 bilhões estável na base trimestral (+4% versus a projeção da XP e +5% acima do consenso), refletindo um desempenho em recuperação na América do Norte, mas parcialmente compensado por um desempenho mais fraco no Brasil.
Quer viver de renda? Inscreva-se no curso gratuito sobre dividendos
Os analistas destacam: (i) melhoria do desempenho na unidade da América do Norte, devido aos melhores volumes de vendas (+15% frente o 4T24) e preços (+2% na base trimestral em dólares), juntamente com menor Custo dos Produtos Vendidos por tonelada, ou CPV/t (-3% trimestre a trimestre) em dólar); (ii) desempenho mais fraco na unidade do Brasil, refletindo preços mais baixos (-4% na base trimestral) e maior CPV/t (+3% ante o 4T24), devido à parada para manutenção na usina de Ouro Branco; e (iii) fluxo de caixa livre, ou FCF, negativo de R$ 1,2 bilhão, refletindo maior capex, ou investimento em capital, desembolsado no trimestre anterior e no consumo de capital de giro. A Gerdau ainda anunciou dividendos de R$ 0,12 por ação (dividend yield, ou dividendo sobre o preço da ação, anualizado de 3,1%) a serem pagos em 19 de maio.
Leia também:
O Bradesco BBI aponta que, no geral, a Gerdau apresentou resultados trimestrais fracos, porém estáveis, com os números mais fracos no Brasil sendo compensados por um desempenho mais forte nos Estados Unidos.
Continua depois da publicidade
“Naquela região, os volumes aumentaram 15% em relação ao trimestre anterior, beneficiados por uma combinação de sazonalidade mais forte e alguma atividade de reposição de estoque antes da implementação de tarifas mais elevadas – levando a carteira de pedidos da Gerdau a atingir 70 dias, o maior nível desde 2022”, aponta o banco.
Ao mesmo tempo, as margens expandiram em relação ao trimestre anterior, para 13,7% (2,9 pontos percentuais maior em relação ao trimestre anterior), com o custo caixa/tonelada caindo 2% em relação ao trimestre anterior e o preço realizado subindo 1%. Do lado negativo, o Ebitda no Brasil continuou em queda, atingindo R$ 1,1 bilhão, com margem Ebitda de 14,1%. Essa deterioração foi impulsionada, principalmente, por preços domésticos mais baixos (4% menores em relação ao trimestre anterior) e maior custo caixa/tonelada mais altos (2% maiores em relação ao trimestre anterior) –com a empresa citando condições de mercado mais difíceis em meio à persistente alta penetração de importações e ao crescimentoda oferta doméstica de vergalhões.
No segmento sul-americano, os resultados da empresa caíram 17% em relação ao trimestre anterior, para R$ 188 milhões, impactados pela redução dos volumes de vendas no Peru, preços mais baixos na Argentina e demanda mais fraca do setor de infraestrutura no Uruguai. Como resultado desta combinação, a Gerdau queimou caixa (R$ 1,3 bilhão), elevando sua alavancagem financeira para 0,69 vez a relação Dívida Líquida/Ebitda (de 0,48 vez no 4T24).
Continua depois da publicidade
Para o BBI, apesar da Gerdau ter divulgado um conjunto de resultados amplamente em linha com o esperado, a reação do mercado dependeria fortemente do tom da administração durante a teleconferência (ao 12h, horário de Brasília) – com os investidores provavelmente focados nas tendências do 2T25, devido especialmente às crescentes preocupações com as operações brasileiras e à fraca geração de caixa. Diante disso, mantém postura cautelosa em relação ao setor siderúrgico e a recomendação apenas neutra.
A Genial Investimentos ressalta como destaque positivo foi a ON América do Norte, mas com um efeito dual (foi herói e vilão ao mesmo tempo). Embora o resultado da unidade de negócios tenha acelerado na base trimestral em virtude do sólido crescimento de embarques (como comentaremos mais a frente), por outro lado na base anual teve um desempenho anêmico, que foi dragado pelo aumento de custos anual, principalmente pelos gastos com sucatas e patamar mais robusto da taxa de câmbio do dólar a R$ 5,85 versus R$ 5,08 no 1T24, implicando em níveis mais altos de CPV/t convertidos em reais.
Outro ponto relevante para o lado negativo foi a queima de fluxo de caixa livre acima do esperado, atingindo R$ 1,3 bilhão (+28% pior do que a estimativa da Genial) em virtude do alto dispêndio de capex de R$ 1,8 bilhão (+20% versus a projeção da Genial), que pode ser ruim no pensamento majoritariamente de curto prazo dos investidores.
Continua depois da publicidade
O Goldman Sachs aponta que as expectativas de lucro da Gerdau foram recentemente revisadas para baixo, mas as compras nos EUA superaram as expectativas e compensaram a fraqueza do Brasil. O preço das ações da Gerdau caiu 13% no acumulado do ano, contra +12% do Ibovespa.
No entanto, também espera que os investidores questionem a sustentabilidade dos lucros e o momentum nos EUA. A administração observou que parte da força do volume se deveu à reposição de estoques em antecipação à maior efetividade das tarifas S32, mas uma desaceleração esperada no investimento e no consumo na América do Norte no segundo semestre pode reverter as tendências atuais.
Ao mesmo tempo, os indicadores de demanda permanecem relativamente fortes no Brasil, mas a competição contínua com importações e uma desaceleração macroeconômica esperada devem limitar a recuperação das margens.
Continua depois da publicidade
“Também observamos o potencial da Gerdau para disputar participação no mercado doméstico em um ambiente de demanda enfraquecida. Por fim, o elevado compromisso de investimento em 2025-26 (com depreciação de 2 vezes) em tempos de incerteza quanto aos lucros deve manter os investidores à margem”, afirmam os analistas.
Apesar de uma recompra agressiva e bem-vinda realizada no 1T, acredita que o momentum provavelmente diminuirá, visto que a geração de fluxo de caixa livre será limitada e a alavancagem líquida já está acima da meta da administração.
O banco tem recomendação de compra com base na boa posição competitiva estrutural e no potencial para forte geração de fluxo de caixa livre (maior do que 15%) assim que o investimento em capital se normalizar (após 2027). Mas a cautela com as elevadas incertezas macroeconômicas e o escopo limitado para o FCF devem manter os investidores à margem no curto prazo, aponta o Goldman.